Acordas, fazes aquilo que programaram na tua mente, duche,
limpa bem os teus dentes, penteia bem o teu cabelo, esfrega aquele creme na
cara, aquele que te promete a beleza que sempre sonhaste, senta-te e mastiga
aquela mistura de torrada já meio fria e café com leite muito aquém daquilo que
para ti é ideal. Sê um dos dois tipos de pessoa, transporte pessoal ou publico,
em ambos és solitário, é inevitável, a presença de 100 pessoas à tua volta não
fazem de ti menos solitário do que aquilo que és, sim, solitário.
Agora trabalha, aquele trabalho que sempre ambicionaste, ou
melhor, o trabalho que alguém ambicionou que tu fizesses. Estuda muito e
trabalha bastante para um dia poderes trabalhar para concretizar o sonho de
alguém que te olha de cima.
Vives na rotina, és apenas mais um, pensas que tens tudo mas
não tens nada, na tua vida só existes tu, e a solidão, eterna companheira, está
sempre contigo nos piores momentos.
Já lá vai há muito o tempo em que vivias de aventuras, já la
vai o tempo em que todos os dias eram únicos, agora todos os dias são mesmo
isso, todos os dias são todos os dias, já não distingues o dia x do dia y, a
tua noção temporal está confusa, não sabes bem a quantas vais, já nem a idade
importa, porque os anos passam e foi apenas mais um ano, mais um ano igual ao
ano que se avizinha, e que será igual aos 30 anos que se avizinham.
Sim, haverá novidades, novos amigos, novas paixões, filhos,
mas tudo isso não passa de rotina, acontece com todos, é a ordem natural da
vida, a ordem natural que tanto desejas quebrar, desejas largar tudo e seguir
em direção do desconhecido, tu pensas fora da box, porque não agir fora da
box?
Engraçada, a vida, a vida é feita de ideais, ideais criados
pela sociedade em que estás inserido, ideais que te serão induzidos pelos teus
pais, e que foram induzidos neles pelos seus pais, e por aí.
Estudar, trabalhar, organizar a vida, para que os teus
filhos possam estudar tanto como tu, e trabalhar tanto como tu, e organizar a
sua vida tal como tu o fizeste, para que os filhos deles continuem este ciclo.
Nada tem de mal esse ciclo, é uma vida perfeitamente normal.
Mas nunca passará disso, uma vida normal. Não te destacas em nada, cairás no
esquecimento de todos aqueles que agora te rodeiam.
Não é fácil, lidar com a solidão, é um sentimento
complicado, dá muito que pensar, sempre que estás solitário, nada te resta a
não ser pensar, pensar naquilo que nunca fizeste. Ao mesmo tempo a solidão pode
ser o catalisador da tua “revolta”, estás farto de toda esta solidão, queres
parar de pensar para começares a agir, vais dizer tudo o que nunca conseguiste
dizer, vais fazer tudo o que nunca conseguiste fazer, e o mais importante, vais
dizer que não a uma vida de solidão, vais desenhar o teu próprio rumo, vais
alargar os teus horizontes e deixar-te ir pela imaginação, porque a imaginação
é o teu limite, se não o consegues imaginar, então não o consegues fazer, mas
se imaginas, e lutas por isso, nada te impede de chegar a essa felicidade tão
cobiçada por tantos, a verdadeira felicidade, que nem eu, nem tu, nem ninguém
que nos rodeia conhece, uma felicidade pura, uma felicidade que não te deixa
olhar para trás e relembrar aquilo que a solidão te fazia sentir.
Felicidade.. Tão difícil de alcançar, olhas pela janela, vês
a chuva a cair e desesperar com o peso que te jaz nos ombros, esse peso enorme,
essa solidão…
Olho para trás, e penso naquilo pelo que passei, não foi fácil, mas se há algo que não senti em algum dia, foi solidão, e por isso estou grato..
In: Autobiography of a Complete Stranger
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